15 Estudos para Violão de Cláudio Menandro

Muito da melhor música composta do início do Renascimento até meados do século XVIII foi escrita como material de estudo. Surpreende saber que obras modelares, como El Maestro de Milán, as Suítes e o Cravo Bem Temperado de Bach, ou as Sonatas de Scarlatti, foram escritas com um propósito pedagógico; seus autores ficariam incrédulos ao saber que um público numeroso se reúne para ouvi-las em concerto, pois foram concebidas tendo somente um ouvinte em mente: aquele que as toca. Elas têm a dupla missão de treinar o estudante em sua capacidade técnica e de formar o seu gosto na convivência com composições de alta categoria.

No século XIX, Liszt encontrou resistência ao tocar em público os estudos de Chopin e de sua própria autoria; havia no ar a sensação de que aquilo era lavar a roupa suja em público, e que só obras consolidadas mereceriam a apreciação coletiva. Mas essa inclusão reflete a mudança de todo um sistema. Músicos agora formavam-se em conservatórios; a pedagogia era um assunto estudado e sua prática unificada dentro de uma instituição. Os melhores estudos de concerto criam um paralelo entre a dificuldade técnica e o conteúdo musical: quanto maior a tensão expressiva e a complexidade da composição, maior também se torna a dificuldade técnica, e vice-versa. Este, até hoje, é o parâmetro de avaliação do êxito artístico de um estudo.

O violão foi um pioneiro no gênero. Compositores como Sor, Giuliani, Aguado e Carcassi, antes de Chopin e Liszt, publicavam predominantemente música dirigida ao uso doméstico e ao treinamento de amadores e, muito cedo no século XIX, eles trataram de cuidar da qualidade artística de seus estudos. Até hoje eles constituem o fundamento da técnica do violão e o modelo para os compositores modernos. Villa-Lobos, que inaugurou o modernismo no repertório de violão, com seus 12 Estudos, admitiu sua dívida para com os mestres do século XIX.

O precedente aberto por Villa-Lobos deu origem a uma variedade de estudos de concerto ao longo dos últimos 50 anos. Entretanto, as obras de extrema dificuldade de Mignone, Castelnuovo-Tedesco, Gilardino ou Dwyer só estão ao alcance de virtuoses. Enquanto os pianistas têm, no seu nível iniciante ou intermediário, ótimas obras que vão de Bach a Schumann a Bártok, o violão não supriu com sucesso essa lacuna, e o estudante intermediário tem de se contentar com uma linguagem muito restrita até se tornar capaz de tocar uma obra de alta categoria. A exceção, até o momento, havia sido a coleção de 30 estudos do cubano Leo Brouwer. Felizmente o Brasil se atentou para o problema de prover o estudante com música que ajude a resolver seus problemas técnicos e mantenha o interesse musical.

Os 15 Estudos para Violão de Cláudio Menandro merecem destaque dentro dessa nova safra. O que mais impressiona neles é a clareza de propósito. Muitas vezes o estudante não consegue perceber exatamente qual a finalidade de um estudo complexo demais. Não aqui. Cada um deles deixa claro, desde seu primeiro compasso, qual o assunto abordado, e, ao aprendê-lo, o estudante sente um ganho gradual de desenvoltura e controle técnico. Alguns deles, como os nos. 3, 5 e 9, abordam elementos que aparecem com frequência no repertório mas que, no meu conhecimento, ainda não tinham sido explorados com êxito no âmbito didático.

O entusiasmo pela funcionalidade destas obras não obscurece a admiração pelas qualidades puramente musicais, que seriam muitas para se enumerar. Alguns deles deixam a brasilidade dos ritmos e dos contornos melódicos assomar discretamente; outros, como o no. 12, exploram o molejo do violão solista popular como um elemento técnico. E o estudante certamente terá mais gana de se dedicar ao aperfeiçoamento técnico com obras como os nos. 7 e 15, que acolhem o enorme bom humor da música regional ou popular urbana.

Não consigo imaginar obras mais interessantes para o violonista que quer galgar etapas técnicas sem abdicar da boa música. Boa diversão!

Fonte da foto: cultura.jundiai.sp.gov.br.

Fábio Zanon, violonista.