Comentários do autor, Cláudio Menandro

Estudo 1. Um dos três estudos mais fáceis da série juntamente com os números 6 e 14, ele apresenta - na primeira parte - alternância de fórmulas de compasso ( 3/4 e 4/4 ) e ligados não muito exigentes. A segunda parte trabalha o polegar,  e o estudante deve cuidar  para que o acompanhamento, nas primeiras cordas, fique em segundo plano, já que a melodia se desenvolve toda na região grave; portanto, enquanto  o polegar toca forte, os outros dedos devem tocar mais leve, o que por si só já é um bom exercício de controle.

Estudo 2. Bem mais exigente que o anterior, a intenção aqui é fixar um dedo na nota do baixo, enquanto os outros se encarregam de desenvolver a melodia. Isso acontece na primeira parte inteira, com os dedos presos se revezando. A segunda parte começa com a mudança de compasso para 2/4 e a introdução de uma célula rítmica próxima do maxixe, para no compasso 22 retornar à ideia inicial , dessa vez com o quarto dedo preso.

Estudo 3. Com mudanças de acorde do início ao fim, esse estudo requer grande precisão e resistência da mão esquerda. Para que a melodia tenha destaque, deve-se manter um bom contato do anular com a corda, uma vez  que a melodia se encontra na nota mais aguda do acorde. Ser dono de um bom “legato” deveria ser preocupação constante de todo estudante,  e eu espero que esse estudo possa contribuir para isso.

Estudo 4. Um dos objetivos dessa série foi o de introduzir elementos rítmicos brasileiros em alguns dos estudos. Temos aqui um baião, ritmo nordestino alegre e contagiante. O estudante deve se esforçar para manter os dedos 2 e 3 presos nos compassos 5, 6, 7, 9, 10 e 11,  enquanto a melodia se desenvolve com os dedos 1 e 4.  Ainda na primeira parte, os compassos 13, 14, 15 e 16 requerem atenção especial na troca de acordes.

Estudo 5. A ideia inicial para esse estudo foi um desafio a que me propus: trocar constantemente os dedos das notas dos baixos ao mesmo tempo  em que desenvolvia a melodia. Reparem na alternância dos dedos 1, 2, 3 e 4, na região grave, a partir do compasso 3 até o compasso 9. Situação bastante incomum ocorre no compasso 8 (2º tempo) quando o dedo 3 toca o Si da primeira corda, enquanto o dedo 4 toca o Mi da quinta corda. Na segunda parte, logo no início, temos uma outra prática incomum na mão esquerda: toda uma frase melódica tocada com um mesmo dedo (o dedo 1), enquanto o 4 permanece fixo.  A ideia se repete mais adiante, só que dessa vez é o dedo 4 que “faz” a melodia enquanto o 1 segue preso. Nos compassos 23, 24, 25 e 26, os dedos 2 e 3 permanecem fixos todo o tempo. A finalidade desse estudo é desenvolver a elasticidade da mão esquerda.

Estudo 6. Escrito numa forma bem tradicional, esse estudo de arpejo  busca desenvolver o equilíbrio entre p-i-m e p-m-a, e mesmo quando tocado em andamento lento traz bons resultados. Uma alternativa interessante é utilizar apenas o p-m-a.

Estudo 7. Gênero pouco comum numa série de estudos, a polca exige um cuidado especial para que não se percam  a leveza e o bom humor, características próprias dessa dança. Atenção especial para se manter o legato nos compassos 9 e 10, e os ligados com o dedo 4 nos compassos 26 ao 29.

Estudo 8. Escrito em compasso 7/8, apresenta muitos contrastes rítmicos. Já nos primeiros compassos há uma mudança para 5/8 e logo em seguida acontece o retorno  à  fórmula inicial. Estudo com espírito brincalhão, quando menos se espera  abandona sua rítmica irregular e se transforma em choro!

Estudo 9. Numa mistura de estilos contrastantes, a primeira parte apresenta um certo rigor com suas escalas e saltos de acordes, num ambiente europeu do século 19. De repente, mudança de rumo: o violão perde a austeridade da primeira parte, “cai” no choro... e agora estamos no Rio de Janeiro, numa varanda ou quintal de casa,  participando de uma roda de choro  com direito às harmonias e “baixarias” próprias do gênero.

Estudo 10. A primeira parte desse estudo apresenta saltos de acordes (desafio recorrente em toda a série) e escalas, essas pouco presentes nos outros estudos. Na sequência,  uma segunda parte toda construída em arpejos e a atenção do estudante voltada para manter o acompanhamento em segundo plano, enquanto destaca a melodia no polegar.

Estudo 11. Entre os mais exigentes para a mão esquerda de toda a série, esse estudo requer muita prática para que se mantenha a fluência nas trocas de acordes. É necessário um cuidado especial nos compassos 9 e 10 ( extensão ) e nos compassos 20 e 28 ( saltos rápidos ). O estudante deve ressaltar a melodia no polegar nos compassos 22 a 27. Esse estudo é dedicado a Heitor Villa-lobos e por isso mesmo tem a sua segunda parte em forma de choro, esse gênero tão apreciado pelo nosso grande compositor.

Estudo 12. A ideia aqui é colocar o estudante em contato com a riqueza rítmica  do samba. Começa com a “batida” que é marca registrada do saudoso violonista Raphael Rabello, para em seguida se desdobrar em outras células rítmicas  à medida que se desenvolve. Para o estudante mais voltado ao  repertório erudito, essa é uma oportunidade  de conhecer - na prática - a ginga, a leveza e a alegria de um dos ritmos mais contagiantes da música popular brasileira.

Estudo 13. A primeira parte é toda construída em arpejos entremeados com alguns ligados. A segunda parte, que contrasta bastante com a anterior, coloca o estudante mais uma vez às voltas com problemas de saltos na mão esquerda. Há, ainda, questões de extensão a serem resolvidas, o que torna todo o trecho muito trabalhoso.

Estudo 14. Único estudo da série inteiramente dedicado aos ligados. Na primeira parte, prevalecem os descendentes, enquanto na segunda  encontramos tanto  os ascendentes quanto  os descendentes. Mais ao final, junto com os ligados, encontramos ainda algumas passagens com saltos de acordes.

Estudo 15. Fechando a série, um estudo para polegar em forma de schottish. No início da primeira parte, a melodia aparece nas notas mais graves, com os acordes soando mais levemente. No entanto, em certos casos, é preciso não confundi-las com as notas dos baixos. Por exemplo:  a partir do compasso 9, a melodia passa para a voz intermediária; deve-se tocar com menos peso o Lá grave do compasso 9, o Mi e o Sol graves do compasso 10, as duas notas Si do compasso 11 e o Sol e Si graves do compasso 12. Na segunda parte a melodia se desenvolve, alternadamente, nas regiões graves e agudas.  Muito importante é o  aviso logo no início indicando como se deve tocar cada grupo de 2 colcheias. A peça deve ser tocada com leveza e bom humor.

Os 15 Estudos aqui apresentados, bem como os 3 Estudos Curitibanos, foram concebidos com o intuito de explorar determinados elementos técnicos, criando situações musicais que contribuem para alcançar maior desenvoltura ao violão. Deve-se, portanto, resistir à tentação de alterar as digitações indicadas em busca de soluções mais cômodas, porque – apesar de exigirem em alguns casos uma movimentação pouco usual – cumprem um propósito específico. Bom proveito!

Foto: Sian Sene.

Cláudio Menandro, autor do livro de partituras